domingo, 16 de setembro de 2012

 
 
vê-se nas colinas
o que há muito não se via
muitas folhas novas
 
cuidadosamente eu ando
sob a chuva do caminho
 
 
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após o jantar
penso em descansar na rede
sentindo este vento
 
saudades do seu olhar
na brilhante lua cheia
 
 
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luar de primavera
sentindo o vento no rosto
adormeço só
 
e só o tempo me fará
sentir o que eu sentia antes
 
 
 

 
 
entre suas mãos
todas estrelas do céu
queria eu ser estrela
 
apodera-se de nós
a solidão das palavras
 
 
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hoje o entardecer
sobre as imensas montanhas
já é tudo névoa
 
vem a noite e com ela o frio
que nos aproxima mais
 
 
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como se fosse além
dos sentidos dos sentidos
lua alba em meus sonhos
 
recita uma valsa tensa
a silhueta do cipreste
 
 
 

 
 
fio a fio
o tear entardece minhas unhas
ao som da garoa
 
tudo o que me resta agora
é a silhueta das montanhas
 
 
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pela manhãzinha
encontro em minha varanda
os velhos prazeres
 
através do vidro sujo
seu olhar vai me seguindo
 
 
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uma borboleta
sonhando em círculos sai
do bambuzal
 
em seu rosto atormentado
a solidão não bate asas
 
 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012



vento que assovia
encrespa as águas do lago -
os barcos vazios
 
a solidão em teu olhar
infesta os juncos da praia
 
 
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a tarde constrói
no grito do bem-te-vi
restos do telhado
 
o sol arde lentamente
os murmúrios da cidade
 
 
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manhã de silêncio -
sobre o pinheiro da colina
a chuva criadeira
 
pássaros gemem nos ninhos
fungos germinam na lama
 



 
 
e agora o crepúsculo
sobre um jardim de crisântemos
deitado de bruços
 
ali já desaparece
um homem e seu instante
 
 
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a lua minguante
na tarde de céu profundo
contra meu espelho
 
vejo um véu de brancas luzes
atrás do biombo de nácar
 
 
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silêncio de pedra -
no espelho d’água à deriva
cresce o nenúfar
 
entre rumores de pássaros
sonharemos este lodo
 
 
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mar de primavera -
aqui a vida se acumula
nada ou quase pouco
 
num pântano de agonia
sob estrelas dormirei
 
 
 
jardim japonês -
para o samurai de pedra
o tempo não passa
 
eis o cheiro da neblina
no repouso dessa tarde
 
 
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recanto sereno -
centopéias de celeumas
entre mariposas
 
sol iodado sobre as folhas
suga as sedas do silêncio
 
 
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regato plissado -
a cabeleira do sol
irisa as libélulas
 
sussurra a harpa dos anjos
nesse céu de torvelinhos
 
 
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contra o céu turquesa
um urubu suburbano
sobrevoa o abismo
 
no ar e entre o ar em círculos
meu olhar rubro se arrulha
 
 
 

 
 
toda essa manhã
encharca o jardim da casa
a chuva gelada
 
agora sobre o telhado
o pássaro melancólico
 
 
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ao final de tarde
o céu cinzento já cobre
os montes distantes
 
até mesmo o capim sente
o vento entrar pelos vales
 
 
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a lua da tarde -
em todas cores florescem
tão longe os ipês
 
sobre as montanhas azuis
o frio de agosto fenece
 
 
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após a tormenta
ocaso ferruginoso
no olhar do flamingo
 
entre filigranas tecidas
labirintos de espumas